Estava eu passando perto da televisπo quando ouvi Gilberto Gil dizer que a Internet estß abrindo um novo espaτo afetivo entre as pessoas.

Que hist≤ria Θ essa ? pensei eu. Todos sabemos muito bem a verdade e a verdade Θ que Internet isola as pessoas.

Afinal, onde foram parar os nossos amigos, aqueles que viraram ôinternautasô ? Antes, eles eram companhias agradßveis, que nas horas vagas saiam conosco e sabiam falar sobre qualquer assunto. Hoje sπo pessoas que preferem nos receber em casa, para mostrar a Internet, e que a maior parte do tempo s≤ sabem nos falar sobre as novidades do tal mundo interativo. Com boa vontade ouvimos tudo, fazemos cara de interessados, mas entender mesmo que Θ bom, s≤ eles entendem, os ôiniciadosö. Eram amigos com os quais costumßvamos trocar confidΩncias e que agora nπo falam mais a nossa lφngua. Mudaram-se para o distante planeta regido por bytes e provedores de acesso, distanciaram-se do universo familiar e de todos os nπo-possuidores de Internet da face da Terra. TΩm telefones que s≤ dπo ocupado, nπo conseguimos mais nos comunicar com eles.

Nisso, aparece Gilberto Gil na televisπo, contando sobre as mensagens carinhosas que vem recebendo de gente que nunca teve coragem de lhe escrever ou falar pessoalmente.

Se pelo menos essas mensagens estivessem sendo enviadas pelo correio ! Por que tinham que vir justamente atravΘs dessa mßquina, sφmbolo da vida calculista, do individualismo e da incomunicabilidade ?

Ela, a terrφvel mßquina, deve estar querendo agora nos desmentir, Θ isso. Fazer-nos passar por reacionßrios e desatualizados. Mandou nossas amizades para o espaτo - cibernΘtico - e agora quer mostrar que nπo foi bem isso o que aconteceu. Como se estivΘssemos exagerando. Quer, entπo, que deixemos de lado velhos preconceitos e nos obrigar a admitir que ela evoluiu, sem que percebΩssemos.

Sorrateira, saiu do escrit≤rio - que era o seu lugar - e invadiu os lares. Nπo satisfeita, tornou-se aparelho eletr⌠nico domΘstico dos mais requisitados. Conquistou as crianτas, os adolescentes e os marmanj⌡es da casa. Desdobrou-se em brinquedo interativo, enciclopΘdia, livraria, shopping, galeria de arte, jornal e atΘ revistinha de sacanagem; permitiu que pessoas do mundo inteiro trocassem notφcias e opini⌡es diariamente, e, pronto, conseguiu o status de veφculo afetivo!

Como a maτπ no paraφso, a mßquina Θ incansßvel na arte de seduzir. O inferno nos espera agora. Mais cedo ou mais tarde, estaremos todos ôiniciadosö e nos encontraremos lß com os amigos perdidos, com o Edu da novela das oito... Mudou a novela, foi ? Tß certo, Θ verdade. Pois deixo aqui registrado que para mim isso tudo Θ mesmo o fim do mundo !

P.S.: Gostaria que os leitores desse artigo me escrevessem falando de suas experiΩncias afetivas atravΘs da Internet. Sei que serπo provavelmente pouquφssimos, mas poderπo prestar ajuda muitφssimo valiosa ao transcurso desse meu processo pessoal de resignaτπo em favor da mßquina. ╔ sΘrio, escrevam.